Accipiter cooperii

Para quem inicia a atividade de observação de aves fica uma dica (que vale também para outros animais): não perca as oportunidades. Muitas das vezes é ela, a oportunidade, que fará a foto! Quer um exemplo? Lá vai.
Esperando o ônibus de Orlando para Gainesville, nos EUA, resolvo sair um pouco do escritório da empresa para fazer alguns registros. Nos EUA não é comum a presença de rodoviárias como as que existem no Brasil. Para tomar ônibus intermunicipal devemos nos dirigir aos offices das empresas. No caso desta, o escritório fica em uma avenida próxima ao aeroporto.
Bem, voltando, saio, disposto a enfrentar a sauna floridiana, pensando comigo "Vai que algo inusitado apareça", afinal as regiões tropicais, tanto da parte austral quanto boreal, possuem uma exuberância faunística considerável.
Eis que entro em uma típica rua de um bairro de subúrbio estadunidense. Esquilos, alguns cardeais... Prometo que logo posto mais fotos e textos desses camaradas. Mas o que surge logo a seguir é uma ave de rapina. E eu penso comigo: "cara, dou sorte em ver aves desse tipo!" Dedo no obturador... Não mais do que meia dúzia de fotos, muito parecidas entre si, inclusive. Mas a sensação de que valeu, mesmo com todo aquele calor, ah, é fato! Valeu!
Volto para o escritório todo feliz. Mostro para a minha esposa que, com um olhar muito mais atento do que o meu, diz: "nossa, e você o fotografou com a presa!". Surpreendo-me com a informação.
Nas garras dessa ave, que não ocorre em solo brasileiro, o Accipiter cooperii, está o seu café da manhã: um esquilo. Em português a ave chama-se falcão-do-tanoeiro. Confesso que procurei o motivo, mas não encontrei. De todo modo, descobri que tanoeiro é aquele que faz ou conserta tonéis (ou vasilhas que se assemelham a isso)[1].
Trata-se de uma ave de porte médio, sendo encontrada do sul do Canadá ao norte do México. Estudos mostram que há diferenças de tamanho entre as aves encontradas nas diferentes regiões dos EUA. Mas, sempre, a fêmea é maior do que o macho. Enquanto os machos não passam de 440 gramas e 46 centímetros, as fêmeas chegam aos 700 gramas e 50 centímetros.
Há diferenças de plumagem entre os jovens e os adultos, algo que é muito comum nas aves de rapina. Na foto que tirei, um indivíduo imaturo (jovem). Para perceber a diferença, dê uma olhada na imagem presente nesse endereço:
https://www.hbw.com/ibc/photo/coopers-hawk-accipiter-cooperii/coopers-hawk-perched-1
Gosto muito do nome da ave em inglês: cooper's hawk, uma homenagem ao naturalista estadunidense William Cooper (1798 - 1864), um dos fundadores do Liceu de História Natural de Nova York, que futuramente tornou-se Academia de Ciências de Nova York, localizado na supracitada cidade. Há, inclusive, um site da Academia:
O mais legal disso tudo é que Cooper não era um ornitólogo, um estudioso das aves. Seu foco eram as conchas. Por isso, trazendo para a atualidade, seu ramo de estudo seria a malacologia, o ramo da zoologia que estuda os moluscos.
Voltando ao cooper's hawk, é interessante pensar que só recentemente os pesquisadores descobriram que a ave habita também espaços urbanos, havendo ninhos em muitas cidades. Originalmente, povoam florestas, bosques abertos e até regiões florestadas montanhosas. Durante o inverno no hemisfério norte chegam a migrar até o extremo sul panamenho, fugindo do frio.
Das coisas que li sobre essa ave, até então desconhecida por mim, a que mais me espantou foi envolvendo suas táticas de caça, um tanto quanto suicidas. Explico-me. Predando preferencialmente aves pequenas e médias, podem entrar na dieta desse membro da família dos Accipitridae esquilos, lebres, morcegos, sapos, lagartos, cobras... Além disso, o Accipiter cooperii é um habilidoso ladrão de ninhos. O problema é que os ataques são feitos de surpresa e com doses constante de perigo, jogando-se por entre a vegetação.
O resultado disso foi que estudos mostraram que 23% dos cadáveres coletados dessa espécie possuíam fraturas no tórax, muito provavelmente ocasionadas por cálculos errôneos na hora do ataque. Mesmo assim, para os mais cuidadosos, a expectativa de vida é de doze anos.
Referências bibliográficas
https://en.wikipedia.org/wiki/William_Cooper_(conchologist)
https://pt.wikipedia.org/wiki/Falc%C3%A3o-do-tanoeiro
https://www.hbw.com/ibc/species/coopers-hawk-accipiter-cooperii
https://www.nyas.org/
https://www.portalsaofrancisco.com.br/curiosidades/conchas-do-mar



[1] https://www.priberam.pt/dlpo/tanoeiro

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